O massacre silencioso: a perseguição do Boko Haram aos cristãos nigerianos
Em meio às vastas savanas e florestas do nordeste da Nigéria ecoam gritos de terror que o mundo prefere ignorar. Imagine uma manhã como qualquer outra em um pequeno povoado cristão no estado de Borno: famílias se reúnem para orar, crianças brincam ao redor de uma igreja humilde de barro, e o sino toca chamando para a missa. De repente, o rugido de motos e o estalo de tiros rasgam o ar. São os jihadistas do Boko Haram, os que proíbem o conhecimento ocidental e, acima de tudo, a fé em Jesus Cristo. Eles não vêm para roubar; vêm para exterminar. Mulheres são violentadas, homens são degolados, crianças são queimadas vivas em suas casas. Corpos mutilados jazem nas ruas, e as chamas devoram a cruz que simbolizava a fé e a esperança. Isso não é ficção apocalíptica; é a realidade cruel que se repete há mais de uma década na Nigéria, o epicentro global do martírio cristão.
O ódio muçulmano
Apenas nos primeiros oito meses deste ano, mais de 7 mil cristãos foram assassinados por sua fé nesse país africano, tornando-o o lugar mais perigoso do mundo para os seguidores de Jesus Cristo. Em média, 30 fiéis são massacrados diariamente – um número que supera qualquer outro conflito religioso contemporâneo. O Boko Haram, fundado em 2002 por Mohammed Yusuf e revitalizado sob Abubakar Shekau, não esconde sua agenda: estabelecer um califado islâmico sunita radical, inspirado na sharia mais extrema, e erradicar qualquer vestígio de cristianismo ou secularismo. Seus ataques são meticulosos, seletivos. Igrejas são demolidas com explosivos caseiros, e pastores são sequestrados e decapitados em vídeos de propaganda que circulam nas redes sociais. Recentemente, em 19 de setembro de 2025, o padre Matthew Eya foi assassinado a tiros ao retornar à sua paróquia em Nsukka; ele foi um dos muitos clérigos caçados como presas pelos islamitas. Seu crime? Pregar o Evangelho em terras onde a cruz é vista como uma afronta a Alá.
Esses massacres não são isolados; são parte de uma campanha sistemática que remonta a 2009, quando o Boko Haram iniciou sua insurgência sangrenta. Desde então, mais de 52 mil cristãos nigerianos foram mortos – 3,1 mil apenas em 2024. A milícia Fulani, composta por pastores nômades muçulmanos armados, aumenta o terror com invasões de fazendas cristãs no cinturão médio do país, alegando disputas por terra, mas na verdade impulsionada por um jihadismo étnico-religioso. Vilarejos inteiros são incinerados, como quando 110 agricultores cristãos foram executados em Zaabarmari, em 2020. Mulheres e meninas enfrentam o pior: mais de 2 mil foram sequestradas desde 2014, forçadas a conversões islâmicas e casamentos forçados, ecoando o destino das 276 meninas de Chibok, cujo resgate o mundo prometeu e esqueceu. O governo nigeriano, com um presidente muçulmano, vice-presidente muçulmano e conselheiro de segurança nacional muçulmano, parece paralisado – ou cúmplice. Terroristas capturados são “reabilitados” e soltos, enquanto cristãos fogem para campos de refugiados, abandonados à fome e à doença.
“Não há judeus envolvidos”
Como cristãos, vemos nisso não apenas uma imensa tragédia humana, mas o cumprimento profético das Escrituras. “Na verdade, todos os que querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Tm 3.12). Os mártires nigerianos se alinham aos heróis da fé de Hebreus 11, que foram perseguidos e assassinados por sua fé no Senhor. Sua resiliência inspira: mesmo sob a ameaça de assassinato ou degradação, eles constroem igrejas clandestinas, batizam novos convertidos e cantam hinos de louvor ao Deus uno e trino em meio à insegurança e ao medo. Mas onde está o eco dessa coragem no Ocidente? Onde está a voz dos nossos irmãos em Cristo, que deviam clamar por justiça?
Aqui reside a ferida mais profunda desse martírio na Nigéria: o silêncio ensurdecedor da mídia ocidental. Enquanto o Boko Haram continua seu genocídio – sim, genocídio, como o reconhece até o comediante ateu Bill Maher, que em seu programa recente denunciou: “É muito mais um genocídio do que o que está acontecendo em Gaza” –, as manchetes globais calam. Quantas reportagens na CNN, na BBC, no New York Times, na Globo, na Folha de S.Paulo foram dedicadas a esses 7 mil mortos em 2025? Uma fração ínfima, perdida em notas de rodapé sobre “eventos isolados”, “conflitos étnicos” ou “instabilidade regional”. Maher, em um raro momento de lucidez, apontou o dedo: “Não há judeus envolvidos, então ninguém se importa”.
Em junho de 2025, os Arquôntes do Patriarcado Ecumênico – leigos reconhecidos por sua dedicação à defesa da fé ortodoxa, ao serviço da Igreja e ao apoio ao Patriarcado – denunciaram o ensurdecedor silêncio da mídia ocidental diante da perseguição aos cristãos. Segundo eles, esse silêncio não apenas destoa da gravidade da situação, mas também aprofunda a invisibilidade das vítimas e enfraquece a pressão internacional em favor da liberdade religiosa. Por que esse silêncio? Porque o jornalismo moderno, impregnado de um secularismo progressista, teme ofender o Islã radical. Criticar o Boko Haram seria “islamofobia”, um pecado imperdoável na catedral da correção política. Em vez disso, prioriza-se narrativas que se alinhem ao multiculturalismo vazio, ignorando que a Sura 9:29 do Alcorão ordena a subjugação dos infiéis – cristãos incluídos.
A mídia global destaca incessantemente a guerra em Gaza, movida por um claro desprezo por Israel e um antissemitismo crescente, enquanto ignora a perseguição generalizada contra judeus e cristãos em todo o mundo. No dia 7 de outubro de 2023, o Hamas invadiu o sul de Israel. Em poucas horas, 1,2 mil judeus foram assassinados – o maior massacre de judeus desde o Holocausto. O grupo, braço do jihadismo global assim como o Boko Haram, embora com agenda própria, expôs sua face brutal. Desde então, o antissemitismo disparou em todo o mundo. Incidentes de ódio aumentaram 400%, com sinagogas vandalizadas, universitários judeus hostilizados em câmpus americanos e um “recorde histórico” de crimes de ódio religioso no Reino Unido, segundo a BBC. No entanto, a resposta global é enviesada: enquanto alguns condenam timidamente o antissemitismo, outros celebram ou justificam histericamente o Hamas, com manifestações pró-Palestina ganhando apoio descarado no Ocidente. Judeus e cristãos enfrentam um desprezo crescente, frequentemente minimizado ou ignorado.
Guerra espiritual
Enquanto isso, os cristãos nigerianos são massacrados sem qualquer atenção. Desde 2009, 52 mil foram mortos em ataques equivalentes a 43 massacres como o de 7 de outubro, mas a mídia ocidental permanece em silêncio. Não há protestos nas capitais ocidentais, hashtags virais ou resoluções da ONU. Por quê? Do ponto de vista cristão, a resposta é clara: o Ocidente, agora dominado por uma agenda laicista, só se mobiliza para atacar os judeus, alimentando narrativas antissemitas que demonizam Israel. Já os cristãos nigerianos – 99% africanos negros, vários descendentes de escravos libertos (em grande parte igbos, muitos iorubás do sudoeste e várias minorias étnicas do centro e do sudeste) – são irrelevantes para a mídia e os governos ocidentais, pois não há judeus para culpar. O Relatório USCIRF de 2025 confirma condições “pobres” de liberdade religiosa na Nigéria, com governos tolerando os ataques cruéis contra cristãos. Assim, o sofrimento de cristãos nigerianos é tratado como secundário, ofuscado por narrativas que favorecem outras causas.
Essa hipocrisia das elites ocidentais revela uma luta espiritual mais profunda. Como alertou o apóstolo Paulo, “a nossa luta não é contra o sangue e a carne, mas contra os principados e as potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestiais” (Ef 6,12). O Boko Haram é um instrumento de Satanás, mas a mídia ocidental é sua cúmplice involuntária, espalhando trevas ao tentar apagar a luz de Cristo. Pastores nigerianos, como relatado por Portas Abertas, afirmam que fiéis temem até se reunir para o culto, enquanto no Ocidente igrejas vazias debatem liturgia inclusiva em vez de orar pelos mártires. No X, vozes isoladas clamam – como Rob Schneider e Emeka Nwagbaraocha, denunciando o massacre ignorado –, mas o algoritmo enterra essas postagens. Enquanto isso, publicações antissemitas ou pró-Hamas viralizam, alimentando ainda mais o ódio.
Como cristãos, não podemos nos contentar com indignação passiva. A Bíblia nos manda: “Lembrai-vos dos presos, como se juntamente estivésseis presos, e dos maltratados, como o sendo vós mesmos também no corpo” (Hb 13,3). Devemos confrontar essa seletividade moral, pressionando governos por sanções ao Boko Haram, como as recomendadas pelo Parlamento britânico em 2024. Devemos expor o viés midiático, boicotando veículos que ignoram nossos irmãos. Mas, acima de tudo, devemos voltar às raízes da fé: a oração, que consola em meio à dor, dá firmeza diante da perseguição e crê na vitória de Cristo sobre as trevas.
Irmãos em Cristo, este é o nosso chamado. De joelhos, clamemos ao Pai por proteção aos cristãos na Nigéria, pela conversão dos perseguidores e pelo despertar das nações. Que o sangue dos mártires não seja em vão, mas se torne um clamor celestial por justiça. Oremos pelos clérigos e por suas comunidades; oremos pelos cristãos sequestrados em Chibok; oremos para que o Boko Haram encontre o Príncipe da Paz; caso rejeitem, encontrarão o Verbo de Deus que virá em glória, para julgar com justiça e derrotar de forma definitiva todos os seus inimigos. Unidos à sombra da cruz, sejamos a voz que o mundo insiste em calar. E que lembremos da comovente oração do mártir Policarpo de Esmirna:
“Senhor Deus Todo-Poderoso, Pai de teu amado e bendito Filho Jesus Cristo, por meio do qual recebemos o conhecimento de Ti; Deus dos anjos e das potências, de todos os seres criados e dos justos que vivem em tua presença; eu te bendigo por me achares digno deste dia e desta hora, para que eu tome parte no número dos mártires, no cálice de teu Cristo, para a ressurreição à vida eterna da alma e do corpo na incorrupção do Espírito Santo. Que eu seja recebido entre eles naquele dia, como um sacrifício rico e aceitável diante de Ti, que és o Deus fiel e verdadeiro. Por isso, eu te louvo por tudo, te bendigo e te glorifico por meio do Sumo Sacerdote eterno e justo, Jesus Cristo, teu Filho amado, pelo qual, contigo e com o Espírito Santo, seja glória agora e nos séculos futuros. Amém.”
Franklin Ferreira - Gazeta do Povo
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