
A Páscoa, uma das festividades mais antigas e universais da humanidade, marca um momento de profundo significado espiritual para diversas religiões ao redor do mundo. Embora cada tradição religiosa tenha suas próprias crenças e práticas, a Páscoa é um ponto de convergência, onde temas como renovação, libertação e esperança transcendem as fronteiras da fé. É uma celebração que une diferentes tradições religiosas em torno de temas universais de renovação, libertação e esperança. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE conversou com líderes religiosos que relatam diferentes perspectivas e significados para o período.
Seja como uma celebração da ressurreição de Jesus Cristo, como um momento de reflexão sobre a liberdade e a responsabilidade, ou como uma oportunidade para a evolução espiritual e a transformação interior, a Páscoa continua a inspirar e fortalecer as comunidades religiosas ao redor do mundo, unindo pessoas de todas as fés em um espírito de renovação, libertação e esperança. A tradição católica é a mais conhecida do potiguar, uma vez que cerca de 65% da população se identifica com a doutrina, de acordo com dados do último Censo do IBGE.
A Páscoa para os católicos é uma das celebrações mais significativas do calendário religioso. Ela marca o ápice da Semana Santa, que começa no Domingo de Ramos e termina no Domingo de Páscoa. “A essência da Páscoa Cristã é a celebração da Ressurreição do Senhor Jesus Cristo, marcando sua triunfante vitória sobre a morte de cruz e o pecado”, diz Dom João Santos Cardoso, arcebispo de Natal. Ainda segundo Dom João, a Páscoa supera até mesmo o Natal em importância para o calendário litúrgico cristão.
“A Páscoa é considerada o evento mais importante do calendário litúrgico cristão, superando até mesmo o Natal, pois comemora o mistério central da fé cristã: a ressurreição de Cristo. Ela marca o cumprimento das profecias do Antigo Testamento sobre o Messias e é a base da esperança cristã na ressurreição e na vida eterna. Todo o calendário litúrgico da Igreja se desenvolve tendo como base esse evento fundador da fé cristã”, acrescenta o arcebispo de Natal.
Evangélicos não têm tradição da “Semana Santa”
Ao contrário do que acontece com os fiéis católicos, a Igreja Evangélica não tem um calendário específico estabelecido de comemorações para o período. Sem cerimônias específicas ou cronograma com Quaresma ou Semana Santa, por exemplo, os evangélicos enxergam o período como um momento mais reflexivo, de renovação, redenção e também para levar a palavra de Cristo para mais pessoas. Os evangélicos costumam celebrar a morte e ressurreição de Jesus durante o ritual chamado de Santa Ceia, que ocorre todos os meses.
“A Páscoa é uma festa judaica”, pontua Elinaldo Renovato, pastor jubilado e professor de Teologia. “A origem é uma festa em que os judeus celebram a saída do cativeiro no Egito. Se passaram mais de 400 anos lá e então Deus resolveu libertá-los, através de Moisés. Deus mandou os israelitas celebrarem a Páscoa, no dia da saída. Páscoa quer dizer passagem. Jesus Cristo, que humanamente era judeu, celebrou a Páscoa, mas aquela foi a última que ele celebrou e estabeleceu um novo ritual que a Bíblia chama de Ceia do Senhor”, conta.
E continua: “Ele pegou o pão partiu, deu aos discípulos e disse: tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós. Então, o cristão nessa época, como em todos os meses, faz a celebração chamada de Santa Ceia. É um cerimonial diferente da Páscoa dos judeus. A Católica manteve o cerimonial judaico, embora não mate o cordeiro. De acordo com a Bíblia, nós cristãos não devemos celebrar a Páscoa porque era uma festa eminentemente judaica. O apóstolo Paulo diz que Cristo é a nossa Páscoa, então nós não precisamos mais participar de uma festa judaica”.
Judeus seguem Velho Testamento
A Páscoa judaica, conhecida como Pessach, é uma das festas mais importantes e celebradas no judaísmo. Ela comemora a libertação do povo judeu da escravidão no Egito, conforme descrito na narrativa do Êxodo na Bíblia hebraica (Tanakh). A Páscoa é uma festa cheia de significados históricos, rituais e práticas religiosas que fortalecem a identidade judaica e celebram a liberdade, diz Sarita Cesana, presidente do Centro Israelita do Rio Grande do Norte (CIRN).
“O Pessach é diferente do significado da Páscoa aqui no Brasil. Em inglês é Passover, que significa passagem, passar, e envolve o conceito do êxodo do Egito: nos anos 1200 antes de Cristo. É a festa da libertação dos Judeus da escravidão, no Egito. Para o cristianismo significa a ressurreição de Cristo, mas para o judaísmo, acreditamos no Velho Testamento.
O Pessach é celebrado por oito dias, com rituais e alimentos próprios. As famílias se reúnem com tradições que podem variar de comunidade em comunidade, mas o ponto em comum, diz Sarita Cesana, é que a comida é vista “não como matéria para nutrir só o corpo, mas instrumento para alimentar a alma, trazendo com isso vários simbolismos e rituais”. Nesse período, alimentos fermentados são proibidos. Por esse motivo, a comida principal é o pão ázimo, também conhecido como matzá.
“É um pão sem fermento nem farinha branca em sua receita, tem textura de bolacha tipo ‘cream cracker’”, comenta. “A mesa é decorada com velas, vinho, matzá, um prato especial – Keará – com alimentos simbólicos próprios da festividade e três matzot inteiras colocadas em um guardanapo especial, com três repartições, a fim de representar os três grupos em que se dividia o povo judeu na antiguidade: Cohen, Levi e Israel”, diz Cesana.
Espiritismo não celebra Páscoa
No Espiritismo não há um costume estabelecido, cada família fica encarregada das suas próprias tradições para o período. Por esse motivo, os praticantes do espiritismo não possuem relação direta com o evento, explica Alisson Campêlo, que é membro fundado da Comunidade Espírita Seridoense e da Seridó Espírita, além de ser diretor de arte da Federação Espírita do RN. “O espiritismo respeita a Páscoa celebrada pelos judeus e cristãos, mas não tem uma relação específica com o evento”, diz Campêlo.
Apesar de não seguir tradições no período, como outras manifestações religiosas, Campêlo destaca que cada prática e interpretação têm importância dentro de seus contextos. “Se nesta reencarnação estou vivenciando a experiência que eu possa ser um homem de bem dentro do Espiritismo, se nesta reencarnação vivencio uma experiência no catolicismo que eu seja um homem de bem na experiência católica, se estou ateu, budista, islâmico ou qualquer outra filosofia/religião que eu possa aprender com ela e me tornar cada vez mais um homem de bem perante a sociedade e a vida”, afirma.