Paulo Briguet: O Pequeno Ditador e o Grande Imperador
“Até quando julgareis iniquamente, favorecendo a causa dos ímpios?”
(Salmo 81)
Hoje nós somos governados por eles: o Pequeno Ditador e o Grande Imperador. O miúdo que se acha o máximo e o máximo que aterroriza os miúdos. O presidente que quer vingança e o juiz que quer obediência. O destruidor da esperança e o destruidor da dissidência. O bufão e o vilão. O palhaço e o censor. O sem-dedo e o sem-limite.
Ambos têm algo em comum: declararam guerra ao próprio país que comandam. Quando desaparecem as distinções entre bem e mal, verdade e mentira, justiça e arbítrio, o único critério que resta é a vontade de poder. E hoje essa vontade está nas mãos do Pequeno Ditador e do Grande Imperador.
O Pequeno Ditador seguiu o exemplo de um tirano antigo e repudiou os “traidores da Pátria” em pronunciamento nacional. Por trás de sua fala, havia uma trilha sonora em tom heroico. Fez-me lembrar o ministro da Propaganda que certa vez disse: “Uma mentira repetida mil vezes se torna uma verdade”. (Sim, o Pequeno Ditador também tem um ministro da Propaganda.)
No dia seguinte, o Grande Imperador resolveu dar uma demonstração de força, aprisionando antes da sentença o líder político mais popular e amado do país. Como sempre fizeram os tiranos, a ele não basta perseguir e prender os inimigos. É preciso humilhá-los.
Algema eletrônica, proibição de falar com a família, proibição de falar ao mundo. Antes da pena de morte, uma morte em vida
O Pequeno Ditador não terá o menor escrúpulo em jogar o país no abismo, apenas em seguida culpar os adversários pelo crime. É bem verdade que às vezes ele precisa da ajuda de seu companheiro, o Grande Imperador, para enfiar goela abaixo do povo novas e amargas medidas.
Mas tudo se resolve: o plano de vingança segue adiante, mesmo diante dos maliciosos e duros golpes da realidade. O poeta Dylan Thomas parece ter se inspirado neles quando escreveu:
A mão que assinou o papel destruiu uma cidade;
cinco soberanos dedos tributaram a respiração,
de mortos duplicaram o mundo, ao meio cortaram um país.
Ambos fazem o que fazem impunemente. A imensa maioria daqueles que poderiam reagir está trêmula e balbuciante, imersa em sua covardia moral, sua indigência mental, sua pusilanimidade. Mas nem todos. Nem todos.
A vingança do Pequeno Ditador não se restringe aos inimigos políticos. Na verdade, ele acha que o país e o mundo inteiro lhe devem muito. Todos nós, que não o veneramos, somos devedores para ele. E essa conta está sendo cobrada, bilhão por bilhão. Ele não sossegará enquanto não silenciar o último crítico e destruir o último opositor. Mas, para isso, ele precisa do Grande Imperador, aquele que efetivamente detém o poder.
O Pequeno Ditador e o Grande Imperador sabem de todos os crimes e pecados que cometeram ao longo do tempo. Igualmente sabem que esses crimes e pecados, que não vêm de hoje, serão devidamente expostos ao mundo, sem dó nem piedade. Não haverá compaixão para aqueles que não perdoam. Não haverá perdão para aqueles que não se compadecem.
Às vésperas de sua derrocada, o Grande Imperador age como se não houvesse amanhã. E a canção estava certa: realmente não há. Para ele.
Paulo Briguet: Gazeta do Povo
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