Amadurecimento leva jovens a se afastarem da esquerda, aponta pesquisa
Uma pesquisa sobre juventude e política no Brasil revelou um dado surpreendente, embora cada vez mais perceptível no debate público: os jovens brasileiros tendem a começar a vida política identificados com pautas da esquerda ou progressistas, mas, à medida que amadurecem, migram para o centro ou mesmo para a direita do espectro ideológico. Essa guinada é acompanhada por mudanças emocionais e de prioridades ao longo da vida adulta.
O estudo, intitulado “O que pensam os jovens brasileiros?”, foi conduzido pela AP Exata entre abril de 2024 e abril de 2025, e espectro político. O levantamento “O que pensam os jovens brasileiros”, encomendado pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), traça um retrato inédito da juventude entre 16 e 30 anos. A pesquisa analisou cerca de 500 mil publicações em redes sociais, em 145 cidades de todos os estados do país, cruzando dados por meio de inteligência artificial, análise de emoções e netnografia — a observação de interações digitais em plataformas como TikTok, YouTube, X, Threads, Discord e Instagram.
Os dados mostram que 44,5% dos adolescentes entre 16 e 18 anos apresentam conexão com pautas de esquerda – sobretudo aquelas ligadas a justiça social, igualdade racial, feminismo, meio ambiente e direitos LGBT+. É uma militância simbólica, alimentada por memes, trends e discursos emotivos, com linguagem altamente digital e estética marcada por cultura pop e gírias.
Mas essa afinidade vai enfraquecendo com o passar dos anos. Entre os 19 e 24 anos, a esquerda ainda lidera a preferência, mas com um recuo para 33,7%, pressionada por críticas internas à coerência e à eficácia das causas defendidas. Já na faixa entre 25 e 30 anos, o número despenca para 18,9%. Nesse grupo, o discurso da esquerda perde espaço para preocupações mais práticas, como trabalho, mercado, saúde mental e estabilidade pessoal.
Centro e direita
Em contrapartida, a direita, que representa 13,5% dos jovens de 16 a 18 anos, cresce para 21,8% na faixa dos 19 a 24 anos e se mantém em patamar elevado (17,6%) entre os mais velhos. A ascensão é impulsionada por jovens que rejeitam o que consideram "excessos progressistas", aproximando-se de discursos ligados à família, religião, autoridade e liberdade econômica.
O centro político, por sua vez, surge como a grande preferência dos jovens entre 25 e 30 anos. Com 27,4% de identificação, é visto como um porto seguro por aqueles que já se desencantaram com os extremos ideológicos e buscam soluções realistas para problemas concretos do cotidiano — como mobilidade, emprego e corrupção.
Segundo a pesquisa, as conexões políticas dos jovens não são moldadas apenas por argumentos racionais, mas, sobretudo, por experiências emocionais. A análise identificou oscilações marcantes nas emoções dominantes conforme a idade. Na adolescência, predomina a tristeza e o medo, ligados às inseguranças do futuro. Na juventude universitária, cresce a raiva e o desgosto, reflexos de frustrações com a política e a vida adulta. Já na fase final da faixa etária, o que impera é o desencanto: tristeza e medo atingem os maiores índices, enquanto alegria, confiança e esperança entram em colapso.
Nesse contexto, cresce também o ceticismo: 25,2% dos jovens de 25 a 30 anos já não acreditam em partidos, líderes ou instituições. Muitos abandonam a militância por considerá-la inócua, ou por frustração com a incoerência entre discurso e prática. A apatia política, por sua vez, reaparece com força nessa fase final, atingindo 10,9% dos jovens — sinal de um afastamento silencioso do debate público.
Regionalismos
As emoções e as prioridades também variam de acordo com a região do país. O Sudeste lidera em tristeza e desconfiança; o Nordeste é o mais esperançoso e engajado culturalmente; o Norte busca valorização identitária; o Centro-Oeste se destaca pelo otimismo e desejo por inovação; e o Sul oscila entre nostalgia e rigidez. Esses traços moldam as formas de engajamento político e a linguagem que ressoa entre os jovens de cada território.
Para especialistas, a mensagem da pesquisa é clara: guinada ideológica dos jovens é, antes de tudo, um reflexo das batalhas internas entre sonho e realidade, esperança e frustração, utopia e pragmatismo e os partidos e movimentos políticos que desejarem dialogar com a juventude precisarão abandonar fórmulas prontas e discursos verticais.