MPF denuncia advogado por chamar Lula de “ex-presidiário” nas redes sociais

O Ministério Público Federal (MPF) denunciou o advogado pernambucano Thomas Crisóstomo por suposto crime de injúria contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após publicações críticas nas redes sociais. A investigação foi aberta após um pedido do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, à Polícia Federal.

Em 2023, Crisóstomo afirmou em seu perfil do X que a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) havia se tornado um cabide de emprego “para mulher do ex-presidiário”, em referência à primeira-dama, Janja Lula da Silva. "Bolsonaro não privatizou a EBC para fazer cabide de emprego e agora ela virou cabide de emprego para mulher do ex-presidiário Lula", dizia o post.

À Gazeta do Povo, o advogado disse ver a ação como uma forma de censura a críticas feitas por “pessoas comuns” contra o governo nas redes sociais. “Até porque meu alcance nas redes sempre foi muito pequeno”, destacou. A denúncia foi apresentada em outubro e tramita na Justiça Federal de Pernambuco. Crisóstomo relatou que aguarda ser intimado para apresentar sua defesa no processo.

No documento, a procuradora Polireda Medeiros afirmou que o suposto delito foi consumado quando o presidente soube dos “comentários desonrosos”, o que ocorreu a partir de um ofício encaminhado pelo MPF ao Ministério da Justiça.

Em seguida, o ministro Ricardo Lewandowski pediu à Polícia Federal que investigasse se o advogado havia cometido crimes contra a honra do presidente. Procurada pela Gazeta do Povo, a pasta disse que não pode se manifestar porque os inquéritos policiais correm em sigilo.

Segundo Crisóstomo, a própria PF “concluiu que não houve crime, mas o MPF ainda assim fez a denúncia”. Ele foi ouvido e confirmou ser o responsável pelo perfil onde a mensagem foi veiculada, mas afirmou que não teve o propósito de ofender, argumentando que apenas veiculou fatos públicos, notórios e verídicos a respeito do presidente.

“Não é possível que as pessoas possam ser perseguidas penalmente por criticar políticos”, acrescentou o advogado, que rejeitou a proposta do MPF para firmar um acordo de não persecução penal (ANPP).

O MPF imputa a Crisóstomo a prática do crime de injúria, com os agravantes de ter sido divulgado em redes sociais e devido à vítima ser o presidente da República. A procuradora argumenta que atribuir a alguém a qualidade de “ex-presidiário” ofende a honra subjetiva da vítima, repercutindo em sua autoestima.

Segundo ela, a liberdade de expressão não protege manifestações ofensivas a terceiros ou falsas. O MPF pede a condenação do advogado e que a Justiça Federal fixe um valor mínimo de indenização por danos morais. Em 2018, Lula foi preso após ser condenado em segunda instância no âmbito da Operação Lava Jato. Ele foi solto após 580 dias de prisão, em 8 de novembro de 2019.

Em 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba, a primeira instância da Lava Jato, para julgar processos que envolviam o petista, anulando a validade de todas as provas.

A Corte não analisou o mérito das ações contra Lula, mas determinou que elas deveriam começar do zero na Justiça Federal do Distrito Federal, o que não ocorreu, pois os processos sobre o tríplex e sítio de Atibaia prescreveram.

O MPF também mencionou na denúncia publicações do advogado com críticas aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, hoje aposentado da Corte. Nos posts, Crisóstomo afirmou que o “Min. Cabeça de Ovo tem promovido censura”, em referência a Moraes, disse que “Barroso é uma excrescência do Judiciário”.

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PESQUISA DATAFOLHA: Operação mais letal foi sucesso para 57% dos moradores do Rio

A operação policial que deixou 121 mortos na última terça-feira (28) foi aprovada por 57% dos moradores da capital e da região metropolitana do Rio, segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira (31). Outros 39% desaprovaram a ação.

Entre os entrevistados, 38% consideraram a operação totalmente bem-sucedida e 18% aprovaram parcialmente. Já 27% discordaram totalmente da ação e 12% parcialmente.

A aprovação foi maior entre os homens (68%) do que entre as mulheres (47%). A classe média (renda entre 5 e 10 salários mínimos) e os jovens de 16 a 24 anos foram os grupos mais críticos, com 49% e 59% de reprovação, respectivamente.

Entre os fluminenses, 48% avaliaram a operação como bem executada, 21% apontaram falhas e 24% a reprovaram. 7% não souberam responder. Entre pessoas negras, 43% disseram que a ação foi mal conduzida.

Sobre as mortes, 50% acreditam que a maioria dos mortos era de criminosos, enquanto 31% dizem que todos eram bandidos. Apenas 4% acham que a minoria era inocente e 1% que todos eram inocentes. O governo afirma que 78 dos 119 suspeitos mortos tinham passagem pela polícia, e apenas seis tinham mandado de prisão.

A pesquisa também revelou que 51% dos entrevistados concordam com a frase “bandido bom é bandido morto”, enquanto 46% discordam. Mesmo assim, 77% defendem que é mais importante investigar crimes do que matar criminosos — apenas 20% preferem o confronto.

A avaliação da operação se divide fortemente por viés político: 83% dos eleitores de Jair Bolsonaro (PL) consideram a ação um sucesso, contra 67% dos eleitores de Lula (PT) que a desaprovam.

O Datafolha aponta que a operação reforçou o debate sobre segurança pública e evidenciou a polarização política no estado, onde Bolsonaro obteve 56,5% dos votos no segundo turno de 2022 e Cláudio Castro (PL) foi reeleito com 58,7% no primeiro turno. O levantamento, feito por telefone com 626 eleitores, tem margem de erro de 4 pontos percentuais.

Com informações de Folha de S. Paulo

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Cearense de 120 anos pode ser reconhecida como a pessoa mais velha do mundo

A cearense Maria Alves Rocha, nascida em 1905 e moradora de Itapajé (a 130 km de Fortaleza), pode ser reconhecida como a pessoa mais velha do mundo, aos 120 anos.

A descoberta ocorreu durante uma campanha social promovida pelo advogado Cid Lira Braga, que buscava os moradores mais idosos de Itapajé e Itapipoca. Segundo ele, os familiares de Maria o procuraram para informar a idade da idosa, inicialmente recebida com surpresa.

O Guinness World Records já recebeu a documentação oficial e pediu três meses para analisar o caso. Atualmente, o recorde pertence à inglesa Ethel Caterham, de 116 anos.

O Brasil já figura no ranking masculino com outro cearense, João Marinho Neto, de 112 anos, morador de Apuiarés.

De acordo com o neto de Dona Maria, Mardonio Vasconcelos Sousa, o segredo da longevidade da avó está na fé em Deus. Ele afirma que a família vive um “misto de orgulho e gratidão” diante da possibilidade de reconhecimento.

A Prefeitura de Itapajé deve montar uma força-tarefa neste sábado (1º) para verificar a autenticidade dos documentos.

Com informações de O Povo

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Facções criminoras expulsam 219 famílias de suas casas no Ceará entre 2024 e 2025; Fortaleza registrou ocorrências em 49 bairros

Entre janeiro de 2024 e setembro de 2025, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) registrou 219 casos de expulsões de moradores por facções criminosas em todo o Ceará.

Os dados constam em um relatório do Núcleo de Inteligência Policial (Nuip), vinculado ao Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO) da Polícia Civil. É a primeira vez que o Estado divulga um levantamento oficial sobre o tema.

Disputa por território e controle do tráfico

O relatório aponta que o aumento das expulsões está ligado à disputa entre facções, principalmente entre o Comando Vermelho (CV) e o Terceiro Comando Puro (TCP), que recentemente incorporou a facção cearense Guardiões do Estado (GDE).

Esses grupos buscam o controle territorial para dominar o tráfico de drogas e a cobrança de “pedágios” a comerciantes. Em setembro, o CV e o TCP chegaram a comemorar avanços em áreas como Vicente Pinzón e Lagamar, com foguetórios na Região Metropolitana de Fortaleza.

Impactos sociais

As expulsões têm provocado mudanças bruscas na vida das famílias, com interrupção de aulas, dificuldade de acesso a serviços públicos e queda no comércio local.

Segundo o DRCO, as comunidades afetadas passam a enfrentar medo constante, isolamento e desestruturação social, enquanto áreas esvaziadas se tornam mais difíceis de fiscalizar pela polícia.

Fortaleza concentra a maioria dos casos; capital teve 143 registros, espalhados por 49 dos 121 bairos da cidade.

Veja números:

Os bairros com mais expulsões foram:

  • Ancuri – 16 casos

  • José Walter – 16

  • Vicente Pinzón – 15

  • Jangurussu – 8

  • Barra do Ceará – 7

  • Papicu – 7

  • Canindezinho – 6

Outros bairros da cidade também tiveram registros pontuais, segundo o relatório.

Cidades da Região Metropolitana e Interior

Depois de Fortaleza, os municípios com mais casos são:

  • Maranguape – 18

  • Maracanaú – 16

  • Caucaia – 15

  • Sobral – 7

  • Pacatuba – 2

  • Quixadá – 2

  • Cascavel – 1

Com informações de O Povo

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“QG” do CV: Complexos do Alemão e Penha distribuem 10 toneladas de drogas por mês

A Polícia Civil do Rio de Janeiro informou que os Complexos do Alemão e da Penha funcionam como quartéis-generais do Comando Vermelho (CV), responsáveis por distribuir cerca de 10 toneladas de drogas por mês. A informação foi divulgada nesta sexta-feira (31), após a megaoperação de terça (28) — a mais letal da história do estado, com 121 mortos.

Segundo a corporação, as comunidades servem como centros de comando, tomada de decisão e treinamento tático da facção. Integrantes recebiam instruções de armamento, tiro, uso de explosivos e táticas de combate nesses locais.

Distribuição de drogas e armas

A polícia aponta que o Alemão e a Penha também são polos de abastecimento de drogas e armamentos, responsáveis pela entrega mensal de cerca de 50 fuzis a outras áreas controladas pelo CV.

O levantamento identificou que 24 comunidades do Rio são abastecidas pelos complexos — entre elas:

  • Complexo do Salgueiro (São Gonçalo)

  • Rocinha

  • Complexo da Maré

  • Jacarezinho

  • Complexo do Lins

Durante a operação, foram apreendidos 100 fuzis, incluindo armas de uso militar e equipamentos de guerra modernos.

Escalada bélica e tecnológica

O Comando Vermelho tem aprimorado seu arsenal de guerra, usando armas de fabricação europeia, drones e roupas camufladas. Entre os 91 fuzis apreendidos, havia modelos da Venezuela, Argentina, Peru e Brasil, de calibres 5.56 e 7.62, muitos montados a partir de peças compradas legalmente pela internet.

De acordo com o ex-capitão do Bope Paulo Storani, o CV tem acesso a fuzis G3, AK-47 e FAL, usados por forças armadas de países da América do Sul e Europa.

Drones usados em ataques e vigilância

Durante a megaoperação, criminosos usaram drones para lançar granadas contra policiais e monitorar as ações das forças de segurança.

Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), a compra e o uso dos equipamentos eram coordenados por Carlos “Gardenal”, integrante do CV. Em mensagens interceptadas, ele e outro suspeito, “Grandão”, discutem a aquisição de drones de alta tecnologia para vigilância noturna. “A gente tem que se adequar à tecnologia, entendeu?”, escreveu Gardenal em uma das conversas.

Com informações de CNN Brasil

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Flamengo empata com Racing e garante vaga na final da Libertadores 2025

O Flamengo está na final da Libertadores 2025. Na noite desta quarta-feira (29/10), o Rubro-Negro segurou um empate em 0 x 0 contra o Racing, na Argentina, e confirmou a classificação para a decisão da competição. O resultado se somou à vitória por 1 x 0 no jogo de ida, no Maracanã, garantindo ao time carioca a quinta presença em uma final do torneio.

O confronto começou com pressão do Racing, que tentou se aproveitar do apoio da torcida e tomar a iniciativa do jogo. Mas o Flamengo se manteve firme e confortável em campo, controlando a posse de bola e criando as melhores chances nos minutos iniciais. Próximo do intervalo, os argentinos passaram a explorar lançamentos na área, equilibrando as ações.

No segundo tempo, a partida ficou marcada por cartões e tensão. Aos 10 minutos, Gonzalo Plata recebeu cartão vermelho direto após agressão a Marcos Rojo, dando vantagem numérica ao Flamengo. O Racing dominou boa parte do jogo, mas não conseguiu furar a defesa brasileira. Mais tarde, um lance envolvendo Léo Ortiz quase resultou em expulsão, mas o VAR corrigiu a decisão do árbitro.

Com o placar zerado, a partida se transformou em ataque contra defesa, e o goleiro Rossi brilhou, segurando o empate até o apito final. Agora, o Flamengo aguarda o vencedor do duelo Palmeiras x LDU para conhecer seu adversário na final, que será disputada no dia 29 de novembro, no Estádio Monumental U, em Lima, no Peru.

Com informações do Metrópoles

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MARIO SABINO: Megaoperação no Rio: Lula é o mais perdido em meio ao tiroteio

Por Mario Sabino – Metrópoles

Lula está perdido em meio ao tiroteio. Não sabe como se posicionar em relação à megaoperação policial no Rio de Janeiro, que causou a morte de 121 pessoas, quatro delas policiais. As cenas, ontem, variaram do simplesmente patético ao esta noite se improvisa.

Vamos ao patético. Ao lado do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, disse em entrevista coletiva que foi informado com antecedência sobre a megaoperação a ser conduzida pela polícia fluminense e que não quis que a PF participasse dela.

Como Ricardo Lewandowski já havia dito que o governo federal não sabia de nada, Andrei Rodrigues foi interrompido pelo ministro, que tentou emendar mal e porcamente o soneto diante das câmeras. Péssimo.

Lula despachou, então, ministro e séquito para uma reunião com o governador Cláudio Castro, no Rio de Janeiro. Depois da conversa, decidiu-se que seria criado um “escritório emergencial” com o objetivo de integrar as esferas estadual e federal para combater o crime organizado no estado. Tenta-se, assim, neutralizar as acusações feitas ao Palácio do Planalto de ausência em relação ao crônico problema de segurança no Rio de Janeiro. Esta noite se improvisa.

Ato contínuo, o presidente da República correu para sancionar a lei que endurece o combate às facções criminosas, aprovada havia quase um mês no Congresso.

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STF contribuiu para cenário de caos na segurança pública do Rio de Janeiro

dia caótico que o Rio de Janeiro viveu nesta terça-feira (28), com mais de 100 mortes decorrentes de confrontos armados intensos entre policiais e criminosos ligados ao narcotráfico, é reflexo de uma série de decisões equivocadas do poder público, que começaram há décadas, mas se intensificaram nos últimos anos a partir de determinações do Supremo Tribunal Federal (STF).

política de não intervenção nas favelas, adotada pelo ex-governador do estado Leonel Brizola na década de 80, impediu a realização de operações policiais nesses locais, o que aumentou o abismo entre o Estado e as comunidades e permitiu que o Comando Vermelho – e, posteriormente, outras facções – assumisse o controle.

Mas a partir de 2020, uma política semelhante – desta vez vinda não do governo estadual, responsável pela gestão da segurança pública, mas do Judiciário – beneficiou as facções de formas sem precedentes, criando ambientes severamente mais hostis à entrada das forças de segurança.

Por meio da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, conhecida como "ADPF das Favelas", o STF impôs uma série de restrições ao ingresso das forças policiais nas comunidades do Rio de Janeiro entre junho de 2020 e abril deste ano – reeditando, na prática, a política de Brizola.

O relator da “ADPF das Favelas” foi Edson Fachin. Segundo especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, as restrições impostas pelo ministro à atuação das polícias dentro das comunidades permitiram que lideranças do narcotráfico fortalecessem e ampliassem suas posições, principalmente por meio da instalação de milhares de barricadas para impedir o avanço de viaturas.

Os grupos criminosos também aumentaram seus arsenais de guerra e até mesmo passaram a abrigar traficantes de outros estados, que viam os morros fluminenses como refúgios seguros para continuar comandando o crime em seus estados de origem.

O fortalecimento do crime organizado, em proporções jamais vistas, nos anos em que as restrições vigoraram contribuiu para um fluxo migratório negativo inédito na história do estado. O Rio de Janeiro registrou, pela primeira vez desde o início da série histórica em 1991, mais moradores saindo do que entrando no estado. Dados do Censo Demográfico divulgados em junho pelo IBGE revelaram um saldo migratório negativo de -165.360 pessoas entre 2017 e 2022.

Polícias do Rio de Janeiro atribuem cenário de guerra à interferência do STF

Uma publicação nas redes sociais feita na noite desta terça-feira (28), compartilhada pelos perfis oficiais da Polícia Civil do Rio de Janeiro (PCRJ); da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE), que também integra a Polícia Civil; e do Comando de Operações Especiais (COE) da Polícia Militar do estado, lamentou o assassinato dos quatro policiais durante os confrontos e, sem citar diretamente o STF, atribuiu à Corte a responsabilidade pelo cenário de guerra.

“Hoje o Estado mostrou força. Mostrou que entra onde quiser, a hora que quiser, e enfrenta o crime com superioridade de inteligência, técnica e armamento. Mas a coragem tem um preço: policiais tombaram no cumprimento do dever. Homens que saíram de casa para proteger vidas e voltam em silêncio. Heróis, vítimas da covardia do crime e da omissão de quem deveria fortalecer o Estado”, diz o texto.

Essa tragédia tem causa: anos de restrições às operações policiais. Anos em que o Estado foi amarrado enquanto o crime se armava, enquanto decisões distantes da realidade deram espaço para facções se tornarem exércitos de terroristas”, afirma a publicação, que já soma quase 7 milhões de visualizações.

Fachin se esquivou de responsabilidade por efeitos negativos da ADPF 635

Desde o início das restrições, Fachin sempre negou de forma veemente que as interferências do Supremo na política de segurança do Rio de Janeiro tivessem gerado efeitos negativos.

Em fevereiro de 2022, durante sessão da Corte sobre a ADPF 635, o ministro chegou a interromper uma fala do colega Nunes Marques quando este apresentava impactos negativos das restrições. Fachin classificou as falas do colega como “ilações”.

“Me causa muita preocupação as notícias que chegam até nós, ministros desta Corte, do que eventualmente pode ter ocorrido neste período em que as operações foram obstadas”, dizia Nunes Marques, quando Fachin o interrompeu: “Perdoe pela interrupção, mas é preciso ter muita cautela para fazer ilações”, bradou o ministro.

No julgamento definitivo da “ADPF das Favelas”, que iniciou em janeiro deste ano, o ministro relator votou para manter indefinidamente todas as restrições às forças de segurança do estado. Outros membros do STF reagiram à decisão, e a sessão foi suspensa. Dois meses depois, o julgamento da ação foi concluído, com Fachin sendo contrariado e a maioria das restrições derrubada pelo colegiado.

Ao longo do processo, Fachin chegou a propor até mesmo a quebra de sigilo de todos os protocolos da atuação policial no estado, sendo seguido por Rosa Weber, Luis Roberto Barroso e Cármen Lúcia. Os demais ministros, no entanto, vetaram essa medida argumentando que poderia comprometer a própria eficácia da ação das forças de segurança e colocar em risco os agentes.

ADPF 635 gerou recorde de letalidade em confrontos

Após as restrições impostas pelo STF, os confrontos entre policiais e criminosos se tornaram mais violentos e alcançaram números recordes de letalidade. Dos dez confrontos com maior letalidade na história do estado, sete ocorreram a partir de 2020, com o início da “ADPF das Favelas”.

Isso se deve ao fortalecimento das facções, que resultou em um grau de resistência muito mais severo ao defenderem seus territórios das forças policiais e de facções rivais.

“O tráfico se fortaleceu porque quando não há ações da polícia, o resultado é o incremento no número de armas em poder das facções e a ampliação dos seus territórios. Eles se aproveitaram da inércia do Estado para agir. Essa decisão do STF vai contra tudo aquilo que se estuda e se pratica com relação à segurança pública”, disse Rogério Greco, especialista em segurança pública e crime organizado e pós-doutor em Direito, à Gazeta do Povo em reportagem de 2023.

Impactos das restrições impostas pelo STF durará anos, diz procurador

Para Marcelo Rocha Monteiro, procurador de Justiça do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), ao longo dos cinco anos em que vigoraram os efeitos da ADPF 635, o Supremo “assumiu a função de Secretaria de Segurança do Rio, estabelecendo quando e onde a polícia deveria realizar operações de repressão ao crime nas mais de 1.400 comunidades dominadas por tráfico e milícia”.

“Agora [desde o julgamento, concluído em abril], o Supremo lembrou que há separação de poderes. Mas os moradores do Rio, sobretudo os mais humildes, passarão anos pagando o preço desse equívoco – vítimas do aumento da criminalidade gerado pela catastrófica ADPF 635”, declara.

Segundo Monteiro, somente a principal facção do Rio de Janeiro, o Comando Vermelho, expandiu seu território em 25% durante a vigência das restrições. Já as operações policiais foram reduzidas em 60%.

Moraes dá 24h para PGR se manifestar sobre abuso de direitos humanos no Rio de Janeiro

Ainda nesta terça-feira, enquanto os confrontos ocorriam, o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), vinculado ao governo federal, apresentou ao STF pedido para que o governo do Rio de Janeiro apresente uma série de informações sobre a operação nos complexos do Alemão e da Penha.

O CNDH também solicitou “medidas complementares e urgentes de monitoramento e fiscalização quanto ao cumprimento das determinações estabelecidas no acórdão da ADPF 635 em especial diante de mais um episódio de letalidade policial ocorrido no estado do Rio de Janeiro”.

O ministro Alexandre de Moraes direcionou a solicitação à Procuradoria-Geral da República (PGR), que deve se manifestar sobre a petição e “eventuais diligências complementares”. O pedido tramita na ADPF 635, que mesmo com o julgamento concluído, segue aberta.

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Governo Lula: PF foi comunicada de operação no Rio, mas se negou a participar, diz diretor-geral

Revelação: o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski. Os dois admitiram que a superintendência da PF no Rio sabia da Operação Contenção. (Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil)

Durante uma entrevista coletiva concedida nesta quarta-feira (29), o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, admitiram que a PF foi comunicada de que haveria a Operação Contenção, no Rio de Janeiro.

Durante a coletiva de imprensa, Lewandowski passou a palavra a Andrei para detalhar as expectativas para a reunião que ocorrerá na mesma tarde, com o governo do Rio. Ao ser perguntado se o governo estadual avisou o governo federal da operação, Andrei começou dizendo que não. Porém, ao longo de sua fala, disse que a Polícia Militar do Rio de Janeiro entrou em contato para verificar se haveria, por parte da PF, "a possibilidade de atuar em algum ponto nesse contexto". De acordo com Andrei, o superintendente da PF no Rio de Janeiro negou colocar sua equipe à disposição, e depois comunicou a ele. "Nós não teríamos nenhuma atribuição legal para participar", argumentou o diretor-geral.

Os jornalistas reagiram, pedindo confirmação da informação de Andrei. Nesse ponto, Lewandowski tomou abruptamente a palavra para esclarecer a fala do diretor-geral. Segundo Lewandowski, a comunicação sobre uma operação nesse sentido deveria ocorrer em nível de primeiro escalão e oficialmente, e não a Andrei.

Diante disso, a imprensa insistiu, e o ministro afirmou: Embora nada tenha passado pelos órgãos de maneira formal, a Polícia Federal foi comunicada. Andrei, no entanto, salientou que o que a PM informou foi que haveria uma informação, sem detalhar o momento em que ela seria deflagrada.

Antes, governo negava conhecimento

A entrevista coletiva começou com Lewandowski. De início, antes da revelação de Andrei, ele chegou a dizer que o governo não teve conhecimento da operação. Por isso, argumentou, os órgãos federais não puderam participar, sobretudo com apoio de inteligência e logístico.

Lewandowski diz que Lula ficou "estarrecido" com o número de mortos. A decretação de uma Operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), porém, dependeria, de acordo com o ministro, de solicitação prévia do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), que deveria, antes disso, "reconhecer a incapacidade das forças locais".

O governo do Rio confirma 110 mortos e 113 presos. A operação foi uma parceria do Ministério Público do estado do Rio de Janeiro e das polícias civil e militar do estado.

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